quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Eu bem sabia que a nossa visão é um ato 
poético do olhar.
Assim aquele dia eu vi a tarde desaberta 
nas margens do rio.
Como um pássaro desaberto em cima de uma pedra
na beira do rio. 
Depois eu quisera também que a minha palavra 
fosse descoberta na margem do rio. 
Eu queria mesmo que as minhas palavras 
fizessem parte do chão como os lagartos 
fazem.
Eu queria que minhas palavras de joelhos 
no chão pudessem ouvir as origens da terra.
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Manoel de Barros

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